14 de julho de 2008

"querida, onde você pôs a criptonita?"

pequenas observações, já que estou viajando amanhã:

1. Esse blog nunca fez posts, apenas EXCLUSIVAS. tudo para o mundo inteiro, e inédito, e com amor e paz, sempre.

2. Aos comentadores inibidos, o maravilhoso blogger (TE AMO, BLOGGER) possui um refinado sistema de comentários que me permite receber comentários via email. Quer dizer, mesmo se for um post antigo e empoeirado, sempre receberei por email o comentário. Por isso, não se acanhem. Recordar é viver.

3. Estou enfrentando uns problemas com minha bagagem. Mas vai dar tudo certo, não se preocupem.

4. Não existe maneira mais elegante de questionar a qualidade de algo que inserí-lo na área do "entretenimento". Porque, claro, todos gostamos de nos entreter, e está bem claro, na própria palavra, que é algo distinto da cultura-de-topo. Assim, imaginemos um jantar em que alguém fala "Gosto de Carlos Gardel como entretenimento." Não há por que se ofender com tal comentário, já que, qual o problema com o entretenimento? e isso vale para qualquer um, independente de sua afinidade com Carlos Gardel, por mais que goste de sua música (como eu gosto, por exemplo - mas eu não tenho nada a ver com isso, eu nunca disse isso em nenhum jantar, sequer pensei a respeito).

Mas isso é bem rápido. A pessoa, num instante, vai se dar conta da polêmica do questionamento e depois voltará ao próprio mundo. A bagunça é rápida, mas existiu.

5. Que tipo de gente tatua "amor" no peito?

6. Hoje, enquanto abastecia gasolina, vi um rapaz desses da minha idade entrando no posto a sabe deus quantos km por hora. Ouvia forró ou algo assim com os vidros abertos, querendo que todas as pessoas no posto o olhassem. Por um segundo, desejei que um elefante caísse sobre a sua cabeça, depois lembrei de alguns contentamentos, e de que estaria em um avião amanhã, agradeci ao frentista e saí. Fiquei quase feliz por aquele rapaz, mas meu senso de higiene não me permitiu ir até lá e dar um beijo em sua cabeça.

7. Eu já disse que comprarei um par de sapatos de tango?

8. Arrependo-me de não ter uma cópia de Os Peãs pra mim. Se tivesse, colocaria alguns trechos do País de Mourões agora, ou então um trecho do No Rastro de Apolo sobre uma moça ou menina que valorizava os ritos. Marta, Luana, não lembro seu nome. Como não tenho o livro aqui, vou postar um pedacinho de Rocky Raccoon, dos Beatles:

Now the doctor came in stinking of gin
And proceeded to lie on the table
He said 'Rocky, you met your match'
And Rocky said 'Doc, it's only a scratch
And I'll be better, I'll be better, doc, as soon as I am able'


Ok, ok, that's all, folks. Boa viagem pra mim. ^^

la eternidad espera en la encrucijada de estrellas

eu deveria ter a decência de, 1 vez por semana, ler A Casa de Astérion. eu me deitaria na minha cama e o leria. ensaiaria todas as reações que tive da primeira vez em que o li, e então o fim:

O sol da manhã reverberou na espada de bronze. Já não restava um só vestígio de sangue.

- Será que acreditarás, Ariadne? - disse Teseu. - O minotauro mal chegou a se defender.


tudo isso pra dizer que, é, buenos aires. comprarei um par de sapatos de tango, um lenço argentino e chaveiros.

8 de julho de 2008

sobre composição e repercussão

um dos pontos curiosos de escrever em um blog é a inevitável (e, muitas vezes, indestrutível!) imagem que é formada pelos leitores. quem me ver por aí vai lembrar de quando eu falei de sombreros, de alguma opinião propositadamente exagerada, das vezes que citei oscar wilde - é possível que me procurem em oscar wilde (ehr), então a solidificar essa imagem que eu mesmo projetei. eu poderia me preocupar com o fato de que, compartilhando meus heróis e assinalando algumas linhas, eu estaria por demais exposto, por demais sincero, mas não. digo, porque não acontece - teria como acontecer, por mais que eu me esforçasse? enquanto isso, continuo aqui, sentado ao computador, tecendo fio por fio, por detrás de máscaras venezianas.

é possível que existam três formas de pensar: a primeira delas seria pela abstração, pela generalização, pela supressão dos pormenores em prol de grandes equações, característica, talvez, da filosofia; a segunda seria o oposto, a retenção e fixação em detalhes, em cada efeito, cada cor, claramente pertencente à literatura. (que existem pessoas que gostam de literatura "pensada" de forma filosófica, e vice-versa, é inevitável, mas não é disso que quero falar.) além disso, tenho de modo muito claro pra mim que os deuses contêm as duas formas, quem sabe ao mesmo tempo.

a terceira é só um desdobramento - para alguns, inseparável - da segunda: pela ficção. não basta se fixar nos detalhes; é preciso construí-los, ficcionalizá-los. para isso, temos um leque de caminhos, dos mais diversos materiais e ferramentas. daí, então, basta dizer Olá.

7 de julho de 2008

por que final fantasy é para crianças espertas

mitificar, desmitificar - ou melhor, assumir um mundo alheio como conhecido - é um processo normal; assim como o seu inverso, o de mitificar a partir daquilo que todos têm por o mundo. acontece mais rapidamente de acordo com a perspicácia de cada um, é verdade, mas acontece em algum grau com todo mundo. em outras palavras, quanto maior a agudeza do espírito, tão mais fácil enjoar, refazer. daí não podermos nunca desistir da peripécia, achar um novo caminho, um novo evento, uma nova princesa a ser salva, invocar sempre novos summons, para, no fim dos extras, subir em cima de um chocobo e se perder entre as árvores da Macalania Woods.

às vezes achamos um moogle e podemos simplesmente clicar em start e nos salvar. às vezes estamos sem pontos de Magic Power e acabamos quase mortos por alguma dessas bestas com asas que caminham pelo deserto, mas graças a uma poção de Ether, recuperamo-nos e ganhamos a partida, ou ainda podemos fugir da batalha.

às vezes damos de cara com um game over, e daí temos duas opções: respirar, olhar pra tudo o que foi feito e se conformar; ou voltar ao último save point, e recomeçar.

5 de julho de 2008

white pontiff of truth

White pontiff of truth,
Crystalline voice in which God's icy breath dwells,
Angry magician,
Under whose flaming coat the armor of the warrior rattles.


(Trakl)

everybody's got something to hide except for me and my chicken

2 de julho de 2008

observações sobre a vida

1) não existe modo mais fracassado de iniciar uma argumentação que "eu faço tudo por...". você faz tudo, não adianta, não vai ceder. todas as vezes que você pensar em falar que faz tudo por algo ou alguém, não fale, pois, não falando, pode ser que ainda dê certo.

2) todas as vezes que eu ouço alguém falando "ah, fulaninho é muito inteligente, mas não pode se esquecer do lado espiritual" enquanto bebe um gole de cerveja e procura a bola de futebol no armário, tenho vontade de afundar minhas duas mãos na garganta do indivíduo até que ele perca a consciência e caia.

1 de julho de 2008

um post contra a ambição

só temos, quando muito, uma única chance pra ler um livro na vida. dependendo da alma, duas. se a qualidade do livro for duvidosa, talvez umas três. pessoas que gostam de comprar 10 livros de uma vez acabam se acostumando que só vão ler uns 5 ou 6 e depois vão comprar 4 outros. os 4 não lidos da compra antiga estão mortos. não que você não possa tentar, mas muito provavelmente não vai conseguir. aquelas letras vão todas fazer um sentido bobo ou nenhum sentido. se você quer escrever sobre determinado assunto de uma determinada forma, também só há 1 ou 2 chances ao longo da vida, e ela se esvai na hora em que você cai pro lado e dorme. aparentemente, então, não há muito o que ser feito, o que ser coordenado.

se uma pessoa dedica cinqüenta anos à literatura, é possível que o sentido de tudo isso só tenha se dado uma vez, e bem no comecinho. é possível que ela saiba menos sobre arte que meu abajur sabe, em segredo. em termos quantitativos, é irrelevante dizer, também, que ela não conhece nada, por melhor e dedicada que seja.

mas isso não é um post sobre desesperança. quem quer que seja, há ainda a chance, dizem, de encarar a luz de frente, mesmo que não por muito tempo. uns 10, 15 segundos, por aí.