28 de fevereiro de 2009

no mundo feminino da arte

No mundo feminino da arte, ou você é Carrie Bradshaw ou é Angelina Jolie, correndo sério risco de receber um troféu de defensora dos direitos humanos pela ONU. Suas chances aqui existem, a depender do seu talento. Mas é grande a possibilidade de fracassar, como em tudo. Ou então você escapa pela tangente e é Walt Whitman.

carries everywhere

Camille Paglia disse numa última entrevista à Veja, sobre a feminilidade americana de hoje, que "todas querem ser a Carrie de Sex and The City". O que é engraçado. Recentemente assisti a uma peça de teatro, um monólogo com um rapaz histérico gritando - também não sei como fui parar ali -, no meio dos "Eu vou queimar as suas cartas!", eu pensei "Deus, por que ele está tentando ser a Carrie de Sex and The City?". Lá pelas tantas, o rapaz tirou uma tinta de um balde e começou a pintar o corpo, dizendo "Eu vou te mostrar do que eu sou capaz!". Olhei bem o rosto do ator e logo soube: ele já havia passado por aquilo. E queria falar sobre como se tornou aquela caricatura. Hoje, se saio na rua, tenho medo de ser abordado por uma Carrie. Porque sei que ela pode me abordar, e dizer como é bem-sucedida. E como tem a cabeça tranqüila. E como fala francamente sobre seus relacionamentos (inclusive, desde quando tornou-se uma piada sequer usar a palavra "relacionamento"?). Que não tem papas na língua. E que a vida é aqui, e agora. Hoje, nem a locadoras de filme vou mais. Quando quero um, peço pelo telefone. Ou baixo na internet.

cenas legais

Cenas em que o cinismo das personagens me encanta
- Elizabeth Vogler, a santa protetora desse blog, ouvindo atentamente as revelações pessoais da enfermeira, em Persona.
- Em North By Northwest, logo no começo, o personagem do Cary Grant volta à casa onde havia sido obrigado a beber meia garrafa de whisky e, em seguida, a manobrar um carro roubado. Ouve depois da suposta esposa de seu seqüestrador, agora na presença de detetives: "Stolen Car! I knew I should've served dinner earlier."

Cenas com danças maldosas
- Jeanne Moureau em La Mariée Était en Noir, dançando de sapatinhos pretos, enquanto espera a morte do homem que há pouco havia envenenado.
- Gilda, Put the Blame on Mame.

Cenas com belos diálogos provocativos
- A conversa entre o sargento e a mulher de seu superior em From Here to Eternity. Seu marido está ausente. Ela tragicamente lhe diz: "You're doing fine, Sargeant. My husband's off somewhere, it's raining and we're drinking now. You've probably only got one thing wrong: the lady herself."
- Outra de North by Northwest, quando Eve Kendall e Roger Thornhill escolhem algo no cardápio e ela seduz-se pelo fato de estar acompanhada do assassino das Nações Unidas.

Cenas com belas perucas
- Brigitte Bardot morena fumando no banheiro, em Le Mépris.

Cenas com belas roupas de pele

- Greta Garbo saindo do Grand Hotel.

sure, I'm decent

o carnaval de vocês também foi bom?

Sempre que alguém me confessa que é anti-sexista, só posso imaginar que a pessoa é frígida. Ou uma planta. Ou uma minhoca - sem alusões fálicas aqui, claro.

caricaturas

Uma pessoa caricata, quando optou por vestir os traços que lhe definiriam o rosto, procurava negar uma outra caricatura. Ao construir essa auto-imagem, a pessoa caricata elege um modelo e despreza o seu oposto, tão deduzível e bobo quanto. É cômodo, concordo, forçar-se a estar nessas duas ou três linhas que lhe dão forma. É o mundo. E o mundo é o mundo dos simples.