31 de agosto de 2008

vendo as coisas pelo lado bom

e se não existisse curso de design e publicidade, onde a gente ia meter esse povo todo? é melhor contê-los com suas câmeras e distraí-los com laboratórios, brincadeiras de joão-pega-maria, dinâmicas e facilitadores de aprendizado. se não, seria um caos, confusões e aberrações no meio da rua, mais do que já existe. curso de publicidade é uma coisa meio pão e circo. de vez em quando, aparece algum mais afoito pra "discutir os problemas da sociedade" e começa a se entreter batendo fotos de favelas, partidas de futebol, desfiles contra o uso de pele de animais, mas ainda assim são inofensivos. sou 100% design.

pequenas verdades (398)

se você consegue falar por mais de 30 segundos sobre As Consequências da Internet: Gírias e Linguagem Culta e imediatamente remete a exemplos como "pq", "vc" e mais outros, é prudente que vc, sei lá, corte a língua. É como uma professora minha disse uma vez: "Pessoal, vamos procurar pensar bem antes de falar, pois, quando falamos uma bobagem, podemos fixá-la sem querer".

26 de agosto de 2008

últimas

The Road, do Cormac McCarthy, é um livro muito bom. Bem escrito. Ouvi dizer que estão fazendo uma adaptação para o cinema, e que inclusive está para sair. Espero que não façam nenhum fiasco. Estão deslizando horrores no cinema. Lembro que um dos últimos filmes que vi no cinema foi aquele da Édith Piaf. Transformaram-na numa espécie de mistura de Dercy Gonçalves com aquela velha viciada em anfetamina de Réquiem para um Sonho. Eu ia dizer "Isso além dos vacilos óbvios", mas assim ia parecer que o filme é ruim por causa de questões secundárias, e na verdade o filme foi feito para ser ruim, e eu já sabia disso desde a 4ª cena (é na 4ª que o marido morre? Ou é nessa que ela fica cega e cai do palco? É tudo tão rápido que me confundo). Je regrette. Voltando ao The Road, parece que vai estrear em novembro. É bom ficar atento, vai que ele ganha uma tradução como "Os Caminhos da Vida", ou "Perdidos na Estrada", coisas assim.

22 de agosto de 2008

dos excessos

O problema não é ser excessivo, o problema é ser EXCESSIVO. Ou melhor, o ideal é ser apenas: Excessivo. Muitos críticos adoram usar o termo "retalhar os exageros", mas em muito o problema não é o exagero em si, mas o seu anúncio, muitas vezes em maiúsculas. Se for pra ser Vermelho, que se encubra. O bom vermelho nunca parece vermelho, mas, no máximo, vinho, ou um vermelho acinzentado. Mas sempre com vários argumentos palpáveis por trás pra dizer "Não, eu não sou um Vermelho, é tudo impressão sua", enquanto dá um tapinha de luvas e ri baixinho "Ham, ham, francamente...". Que quer dizer: a boa literatura é silenciosamente explosiva (explosiva é uma palavra feia ou bonita?). então, o **EXCESSO** está lá, tão convincentemente razoável que ninguém duvida. Mascara-se e então dzzz. Os críticos, teóricos, etc, só poderiam falar dessas máscaras (o que torna tão inapreensível, ainda bem, a definição do literário), enquanto o gênio dá palminhas em suas costas e, quando olhar pra trás, dzz.

15 de agosto de 2008

o limbo e o lustre

dentre minhas maiores distrações, uma delas está em estereotipar gente no geral. quanto mais elaborada e complicada for a estereotipagem, melhor. é um total constrangimento ver gente que só consegue visualizar 3 ou 4 traços e assim finalizam a descrição de um outro, nós sabemos. normalmente gente assim divide todo mundo em "espontâneo" ou "sincero", e os outros com seus respectivos opostos.

mesmo assim, por conta da própria humanidade, fui obrigado a baixar meu nível de exigência e me sujeitar a tal constrangimento. existem pessoas a que tento atribuir mais de 5 quaisquer características e não consigo. cavo com todo meu talento ficcional e mal consigo elaborar uma única linha. às vezes nem as conheço bem, o que poderia ser tomado como uma injustiça da minha parte, mas tenho a impressão de que, ainda que as conhecesse, não adiantaria muito. então nem perco meu tempo.

daí, de volta ao meu quarto, demoro uns 2 minutos olhando um par de sapatos que comprei em Buenos Aires, divago brevemente sobre o quanto eu poderia dissertar sobre aquela peça aparentemente tão simples. quão contraditório é isso? poder escrever uma página inteira sobre um par de sapatos e nem mesmo uma única linha sobre pessoas com que compartilhei o mesmo ambiente às vezes por um semestre inteiro? por anos a fio? por contínuas noites de sábado?

mas estou trabalhando nisso. tenho uma gaiola particular em meu sótão e, de vez em quando, aprisiono alguns desses tipos lá. tenho uma coleção invejável, eu diria. aos antropólogos, sociólogos, políticos ávidos por votos, eu lhes oferto, em primeiríssima mão: troco 30 deles por 1 único belo par de sapatos que esteja a meu nível de exigência - o que não é muito, apenas que seja bonito e tamanho 44. se o comprador for gentil comigo, posso dar umas 2 ou 3 gentinhas a mais, pois deixo claro que não tenho interesse algum em reter essa gente em meus aposentos, ou mesmo em provocar-lhes sofrimento e dor.

de resto, minhas cores favoritas são o preto, marrom, roxo, cinza. não tenho opinião formada sobre o bico quadrado. também é preciso ser razoável quanto ao uso de fivelas, principalmente se douradas. estou aberto às propostas.