27 de maio de 2009

cumpleaños

Mal reparei: The Lemon of Pink, este blog carinhoso, fez hoje ou ontem 1 ano de existência. Deixo um poema de Gregório de Matos, baianinho bom de prato e de rima, se não o melhor poeta brasileiro antes de Bruno Tolentino, certamente o que tinha a melhor alcunha. E não vou agradecer a ninguém, porque fiz tudo sozinho.


Desenganos da vida humana, metaforicamente

É a vaidade, Fábio, nessa vida,
Rosa, que da manhã lisonjeada,
Púrpuras mil, com ambição dourada,
Airosa rompe, arrasta presumida.

É planta, que de abril favorecida,
Por mares de soberba desatada,
Florida galeota empavesada,
Sulca ufana, navega destemida.

É nau enfim, que em breve ligeireza,
Com presunção de Fênix generosa
Galhardias apresta, alentos preza:

Mas ser planta, ser rosa, nau vistosa,
De que importa, se aguarda sem defesa
Penha a nau, ferro a planta, tarde a rosa?

o cachorro late, o gato mia, a zebra zurra

Todas as áreas do conhecimento tem um elo em comum, e esse elo é Deus. Ou melhor, é uma zebra.

(Com vocês, Deus:

-Zurrrr.)

Dessas áreas, as Artes são a mais metalingüística, a Filosofia é a mais descritiva e a História é a mais ilustrativa. A Química é aquela por qual reconheço minhas limitações. E a Botânica é aquela que ressinto nunca ter estudado quando tive a chance. Mas então.

Por todas terem um elo e esse elo ser em comum, é natural que alguém que lide com qualquer uma dessas áreas tenha sentido cócegas dessa zebrinha charmosa, nem que ao menos uma vez na vida. A zebrinha vem, charmosa, faz um carinho com o focinho e sai. E então a pessoa acorda e tem a falsa impressão de que "está na área realmente fundamental para o universo", "é aqui onde está a zebrinha."

No entanto, sabemos que a zebra é amiga e aparece para todas as áreas. O que não quer dizer que apareça para todos.

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Uma vez "aparecida" (para a discreta parte da população com alma), os resultados podem ser catastróficos: vaidade, loucura, isolamento, a lista é longa e conhecida. Sem contar que até hoje ninguém conseguiu sequer tocar a zebrinha, ao menos um tapinha no rabo*. E os que tentaram à força** bem que tiveram reações curiosas. E dessas tentativas ficaram registrados alguns documentos. Um dia vai cair um meteoro pancada na terra e a raça humana vai ser extinta. Ficarão os documentos e a zebrinha, dando uma risadinha cínica disso tudo.


* digo isso após severa pesquisa no google images

** não estou numa situação melhor. Estampa de zebra é a minha favorita. Não em mim, mas, se vejo em alguém, penso "Hmm, perverted!". Quer dizer, não penso em inglês. Simplesmente não ficaria sonoro, tal.

15 de maio de 2009

"always", "sometimes" e "nevers"

Li recentemente no The Sartorialist: "As I write this I am realizing that great personal style is made up of a certain percentage of "always" items and methods, mixed with a certain percentage of "sometimes" fashions, and a certain percentage of "nevers"." (conclusão do Sartorialist após ver um rapaz usando rolled shorts, o que seria a princípio reprovável, nas ruas de NY).

(Suspiro. Oh, Deus, quanta perspicácia! Oh, que lição para jovens poetas!)

Bom, sabendo que isso não é apenas uma declaração sobre moda, nem sobre literatura ou qualquer arte, mas basicamente toda a discussão de tradição e inovação resumida em 3 linhas, resolvi pensar no que seriam afinal "always" items and methods, "sometimes" e "nevers". Consequência óbvia. Tão óbvia quanto constrangedora, quando vejo uma professora de literatura usando sutiã com alça de silicone.

Afinal, referências a mitologias antigas, crueldade, perversões, juventude, metalinguagem, hipérboles descaradas ou hipérboles disfarçadas de frases normais, descrições em geral, imagens com cavalos, tristeza sincera, pessimismo dissimulado em humor ou humor gratuito são um always. Assim como seriam sometimes, hmm, mistura de línguas diferentes na mesma sentença, palavras de baixo calão, sujeira no geral (autodestruição, humilhações), termos de áreas inusitadas, como a botânica ou a química. Nevers, não sei, talvez colagens e fragmentações em geral, sintaxes muito confusas, rebeldia gratuita de estilo, temáticas exóticas (ETs, "o mundo nos anos 4000", espiritismo, dinossauros).

(Deixo claro, no entanto, que alça de silicone não é sequer um never, é um nível abaixo do never, um never-never, a não ser que alguém ou o tempo me prove do contrário.)

Quase todos os meus favoritos (oh, desculpem a minha parcialidade de critérios!) misturam bem os always, sometimes e nevers. Até aqueles que ficariam irritados em ser chamados de fashionistas, como Campos de Carvalho. Campos de Carvalho, se tivesse tido a oportunidade de ir na Oprah para falar sobre seu estilo, diria algo como "Sou muito desligado. Pra ir à padaria, ponho a primeira calça e nem penteio o cabelo, acredita?". E, ok, de fato, não conheço um escritor legal que tenha escrito sobre alienígenas ou dinossauros, mas boto fé. Uma hora vai ser cansativo escrever sobre pessoas, vocês vão ver.

5 de maio de 2009

good morning, super pig

O problema do obsessivo é que ele só é feliz ou "aturável" para si próprio quando possui algo com que possa, digamos, "distrair-se". Um obsessivo sem objeto é como uma poderosa matéria bruta sem força.

O problema do hipocondríaco é que, se a hipocondria existe, e se declaradamente atinge tanta gente, é porque talvez algo nela realmente faça sentido.

Mesmo assim, um obsessivo preso a um jogo, como um cão a um osso, não está numa situação menos desesperadora do que se não estivesse. Nem o hipocondríaco, se preso a alguma paranóia. Ou paranóicos em geral.

Não é por causa disso (até porque tenho uma cabeça muito tranquila e talz), porém, que eu me recuso a ler qualquer notícia sobre essa gripe - oh, que nome detestável! - suína. É certo que não consigo pensar em nada mais humilhante que morrer por algo que se originou em, ehr, porcos. Em todo caso, não morrerei. Caso aconteça, meus biógrafos do séc. XXII serão atentos em dizer que, na verdade, não se sabe a data exata da minha morte, que fiz uma viagem à Índia e de lá não voltei. Ou que vivi até aos noventa, deteriorando-me até a exaustão e ainda assim produzindo poemas sobre desertos e pandas-vermelhos. Ou que fui assassinado a facadas por um anônimo - o que gerará comentários, naturalmente. Teatro se faz assim: criando as cenas e dividindo em Ato I, Ato II, Último Ato. Ou São Sebastião não sabia que sua morte a flechadas seria alvo de metade dos quadros do Renascimento? Bom, aceito de quase tudo, menos que digam que morri por infelicidade dessa peste fedorenta.

(Por outro lado, se essa peste dizimasse um terço da população, não seria apenas um acerto harmônico, mas também proveitoso para a natureza. Falo como biólogo. Como cidadão de bem que sou, também seria bom. As pessoas que aproveito não lotam uma cabine individual de telefone. Ou lotam e ficam apertadinhas, hihi. Hmmmm.)

Mas me disseram por aí que já houve alguns casos confirmados no Brasil, sim. Lembro de ter lido "75", e eram pessoas espalhadas por todos os estados. Não é assim que chamam, uma pandemia? Se aqui acontecer como no México, em cerca de semanas, não vai restar uma alma penada para ler meu blog. Só eu e o Afrânio, meu amigo imaginário.

Volto aos estudos. Mas visitarei a banca de revistas no final de semana. Atento sempre para o próximo estouro mundial. Quem sabe um acidente de avião dos bons. Lá terei assunto para um futuro post. Se nada acontecer, não sei. Comprem a Vogue.