26 de dezembro de 2008

um post sincero

Estou escrevendo isso para dizer que acabo de comprar uma bermuda reta, de algodão, acima do joelho. Marfim, linda. Muitas coisas no mundo estão perdendo o sentido, e nessa lista sem fim estão certamente as bermudas cargo.

21 de dezembro de 2008

pero cómo lo hice ahora no me acuerdo

Dia desses, conversava com um amigo. Sobre algumas coisas, que não lembro exatamente. Sobre o que conversávamos escreverei em seguida, espero. Estávamos caminhando na calçada, e estava meio escuro. Chuto que depois da meia-noite. Que importa é que fomos interrompidos algumas vezes. Três, e irei direto ao ponto. Da primeira, uma senhora. Abordou-nos, pediu algumas esmolas e contou-nos algum ocorrido desagradável para nos convencer. Ficamos, eu e meu amigo, um pouco desconfortáveis e dobramos na rua seguinte. Antes, dei alguns trocados e desejei boa sorte. Ao retomar o assunto - falávamos sobre hieroglifos -, vimos uma moça gritando que havia sido assaltada, no meio da rua. Não nos abordou, mas dava um escândalo para si própria, o que era obviamente mais interessante que a nossa conversa sobre hieroglifos. A terceira e última interrupção foi de um casal de espanhóis (moro numa cidade turística, vocês sabem). Perguntaram-nos como se chega ao Dragão do Mar. Não sei se pela bebida, pela confusão da noite (as ruas daqui são todas retas, o que às vezes me confunde) ou se simplesmente estava bem-humorado, mas disse ao casal, em espanhol, que por supuesto que ya vi el hermoso dragón algunas veces, dos o tres, pero cómo lo hice ahora no me acuerdo. Ao ver que não me entenderam, descobri que não eram espanhóis. Italianos, talvez. Sei que serviram bem. Meu amigo sorriu. Disse que meu sotaque era bom.

4 de dezembro de 2008

Caras

É uma heresia dizer que não há revista nacional que preste. Certamente, quem disse isso não lê a Caras; quero dizer, a sessão de citações da Caras.

2 de dezembro de 2008

um poema e um voilà

The Ecstasy

We wandered in and out of the lobby
of a large house in history.
There was little to see at first,
then our eyes growing accustomed to the darkness
we could make out figures on a bridge
who waved to us, seeming to want us to come nearer.

We decided not to do that.
You thought the place was scary.
I found it relaxing, invigorating even.
There was a smell of that kind of musk
that is less than a warning, more than a confirmation.
The furniture was all of a piece,
alas; the air moved nearer.
It was my breathing as I had often feigned it.

Going down the slope next day
there was nothing in the brilliant, awful annals
that let us see
just to the margin, and no further.
I want out now.
I have traveled in this country
longer than anyone should, or has.
It's natural to want a little sweetness
along with one's hunger, to put nothing aside
for the blistery winter when friendships come unknotted
like tie-dyed scarves, and the weathervane's a mate,
only you can't see it pointing backwards.

We left early for the reception,
though swooning and sherbets no longer seemed viable,
and there was a hidden tax in all this.
Yet we stayed, longer and longer. The dancing came to an end,
then started up again, one had no say in the matter.
In the morning it was warm, period. I went out on some pretext
and stayed for twenty years.
When I returned you asked if I had forgotten anything,
and I answered no, only the milk. Which was the truth.

(John Ashbery)

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Os últimos quatro versos desse poema não são apenas fantásticos. Não sei o que eles exatamente são. Sei de algumas coisas, apenas.

Mudando de assunto e, ao mesmo tempo, não.

Fui a um restaurante e o garçom não me deu boa noite. Fiquei assustado. Depois, pedi uma água. Quando chegou, retirei um ovo de minha maleta e quebrei-o dentro da taça - sem a gema, lógico. Depois chamei o garçom e disse "Está com cheiro de ovo." Ele me respondeu constrangido que iria trazer outra. Talvez alguém tenha sido demitido por isso, nunca saberei. Algumas coisas sabemos, outras não. Voilà la vie.