22 de fevereiro de 2010

oi, a metafísica não me deixou dormir

UMA EXPLICAÇÃO

Uma vez um amigo me disse que o principal problema dos arianos é que eles não aceitam uma existência fragmentada; ou seja, eles constroem um conjunto de linhas em torno de si próprios, talvez como uma forma de se proteger, e permanecem por anos dentro dessa cabana.

Eu tive uns, digamos, insights espirituais nesses últimos dias. Eu confesso. Mas enquanto eu tentava dormir agora (eu não consegui, eu não consegui), eu decidi que aceitar a sinceridade desses insights (gente, eles foram MUITO sinceros) não me impede de aceitar a sinceridade de outras coisas que eu assimilei ao longo da minha curta vida, junto com minha família, amigos e meu amigo imaginário.

No entanto, dentro de uma mesma linha de raciocínio, essas sinceridades muitas vezes não se encontrariam. Seria uma guerra de grandes sinceridades se cruzando, o que ia resultar num enorme conjunto megalomaníaco de sentidos, e eu ia ser tomado naturalmente por contraditório, incoerente e as pessoas iam me levar menos a sério do que já me levam.

Para resolver esse problema, eu decidi que eu não vou ser um ariano, eu não vou traçar todas essas sinceridades dentro do mesmo espiral, e acabei decidindo uma coisa drástica, mas que será melhor para mim, para vocês e para todos: vou multifacetar o Senhor Damasco, primeiro porque é algo que eu não controlo totalmente e segundo porque eu sou jovem e posso me dar ao direito. Mas vamos direto ao ponto, porque ser chique não é apenas ser franco, é também saber ir direto ao ponto:


UMA CLASSIFICAÇÃO

(Senhor Damasco, o Metafísico)

1. Senhor Damasco, o Metafísico: esse foi o que obviamente se manifestou nos últimos três posts. O Metafísico sempre foi a minha faceta mais forte (eu não ligo de me chamarem de hippie), mas foi uma faceta que eu desenvolvi com mais força muito antes deste blogue existir. Eu tinha algo como quinze anos e via Bergmans e Antonionis diariamente. Quando eu vi que ele tinha tomado proporções gigantescas, eu o prendi dentro de uma sacola de papel reciclável (porque naquela época eu já tinha consciência ecológica e não ia utilizar sacos plásticos) e criei o The Lemon of Pink.


(Senhor Damasco, o Perverso)

2. Senhor Damasco, o Perverso: é o mais marcado aqui, evidentemente. Foi um exercício estético que eu estendi à exaustão e que, se não fosse o retorno surpreendente do Metafísico nos últimos dias, eu teria fechado o blog. Simplesmente porque não havia mais nada para ser explicado. Sobre o Perverso, nem adianta eu falar nada, é o lado Wildeano da força, a Salomé do agreste brasileiro. É um lado de que eu peguei um certo desgosto porque eu perdi a medida da ironia e estava a ponto de me tornar aquilo que o Perverso mais dissimula: um ser de superfície. Eu desconfio que o Metafísico resolveu dar as caras de novo justamente por isso.


(Senhor Damasco, o Panda Vermelho)

3. Senhor Damasco, o Panda Vermelho: esse é um pouco mais difícil de explicar, mas se vocês vêem algum sentido em este blog se chamar The Lemon of Pink, em existir uma foto de uma criança com um capacete do Darth Vader e por meu gosto por Animal Collective - sim, aparentemente não há nenhum sentido nem nenhuma sugestão de sentido -, então vocês me poupam de qualquer explicação. Mas eu garanto que há um sentido muito forte, que me forçaria a realmente virar um panda vermelho se eu tentasse explicar. Em todo caso, não tem problema, basta crer que MESMO LOUCA E ABSURDA A VIDA É UM ETERNO APRENDIZADO*.


(Senhor Damasco, o Performático)

3. Senhor Damasco, o Performático: sabe quando vocês acham que eu estou sendo sincero, mas na verdade eu estou sendo sincero TAMBÉM? Eu sou uma pessoa muito sincera. Mas eu também sou um pouco jogador de pôker. Eu achei que, quando o lado Metafísico da força tinha se manifestado, eu ia deixar todas essas gracinhas de lado, mas o desgosto pela seriedade, graças a deus, me impediu de levar isso adiante. É por isso que eu amo a Elisabet Vogler, de Persona, porque é impossível dizer se ela está sendo sincera ou mentirosa, se ela tem controle sobre a verdade e o fingimento, se é possível afinal separar as duas instâncias. O mundo é um lugar engraçado, é ou não é?


(Senhor Damasco, o Fracassado e o Desapontado)

4. Senhor Damasco, o Fracassado e o Desapontado: esse é o que eu escondo nos meus diários secretos vergonhosamente, enquanto ouço Billie Holiday. Meu deus, como ele me envergonha. Eu nem sei como tive coragem de citá-lo aqui. Próximo.

Não tem próximo. Ou tem?

OI, EU ESTOU DE VOLTA

Bom, meus amigotes, eu não sei se isso serve para eu não receber acusações injustas, se é uma justificativa para explicar o que diabos deu em mim nestes últimos três posts (e que eu espero que não pare). O que resta de verdadeiro é que, mesmo fazendo essa tipologia de Senhores Damasco: uma biografia, eu não vou saber dizer quando eu vou estar manifestando a sinceridade de um ou a sinceridade de outro, ou várias sinceridades ao mesmo tempo. Também é claro que as sinceridades não são de todo desencontradas e às vezes até exigem o suporte uma da outra.

Sei que é uma maneira espertinha de não ser acusado de contraditório, mas, ao mesmo tempo, me parece a maneira menos desonesta de não cair numa covardia argumentativa, numa caricatura de valores e de ser mais eu mesmo, desse jeitinho especial e esquisitamente egocêntrico que eu sou. Infelizmente, não tenho mais tempo de dormir, porque as aulas começam hoje e eu já estou atrasado. Metafísica, é sempre um prazer.

*e viva à nossa felicidade.

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