16 de março de 2010

alguns poemas ou fragmentos que não têm nenhuma relação entre si exceto o fato de que me apeteceu postá-los

Se passei dos cinqüenta e das três da manhã
queimando maço atrás de maço; se me agarro
desamparadamente ao último cigarro
como Adão à serpente; se me tortura a vã
obsessão da queda, o sabor da maçã,
e ainda assim insisto em modular meu barro
e fazer dele a gaita, ou a flauta de outro Pã;
se largo tudo enfim e abro a janela e escarro
entre a vaidade, a noite e o carro do vizinho,
será talvez por isso mesmo: porque creio
que tudo vai passar, mas o canto sozinho,
se conseguir abrir a escuridão ao meio,
há de salvar-me! O canto... Esse meu velho espinho
sempre me fez sangrar, nunca disse a que veio.

(Bruno Tolentino)

-

Nunca entendi que o coração sofresse
como sofre por causa do ilusório,
que fizesse de si um consistório
de fantasmas inúteis, e que nesse

fundo de calabouço se metesse
tanto remorso, tanto mais inglório
quanto nunca serviu: que padecesse
porque entulhasse um fictício empório

com suas ficções e seus delírios.
O tigre mata à toa, o coração,
fabricando e alongando seus martírios,

estraçalhando-se a si mesmo em vão,
imita a fera absurda e, como os tiros
na noite, morre só, na escuridão.

(Bruno Tolentino)

-

You came in out of the night
And there were flowers in your hand,
Now you will come out of a confusion of people,
Out of a turmoil of speech about you.

I who have seen you amid the primal things
Was angry when they spoke your name
In ordinary places.
I would that the cool waves might flow over my mind,
And that the world should dry as a dead leaf,
Or as a dandelion see-pod and be swept away,
So that I might find you again,
Alone.

(Pound)

-

(...)
Duermen del otro lado de las puertas
aquellos que por obra de los sueños
son en la sombra visionários dueños
del vasto ayer y de las cosas muertas.
(...)

(Borges)

0 comentários: