17 de março de 2010

a delícia de ser leviano

Uma das coisas que eu mais gosto de fazer é de inventar datas e dados obviamente mentirosos, de fazer comparações claramente forçadas e de desenvolver raciocínios que eu já sei que estão errados durante o ato de composição. Poucas coisas me dão tanto prazer quanto fazer generalizações fantasiosas, exageradas, de usar exemplos específicos para dar consistência a uma argumentação geral e portanto falível. Mas eu não faço isso gratuitamente. Eu faço isso porque todos que se apoiam no próprio potencial lógico-analítico para ver o mundo fazem, alguns de forma convincente e outros nem tanto, porque não há outra forma de subjugar a argumentação alheia sem ser através desses jogos - claramente percebemos quando o outro está fragilizado e impressionado com as nossas mentiras; sentimos que acabamos de roubar-lhe algumas moedas. Sem querer percebemos que isso acaba formando um enorme grupo de mentirosos, presos à própria retórica como a uma religião, uma secreta seita de farsantes a ponto de serem descobertos. Mas se fazemos isso tão comumente, se praticamente não sabemos pensar de outra forma e desconfiamos com certo escárnio de qualquer outra forma de pensamento, talvez haja um motivo que exceda o prazer dos jogos, talvez todas essas construções lógicas escondam uma obsessão misteriosa, quem sabe o nosso próprio rosto, o rosto comum dos homens, um desenho grosseiro do rosto de Deus.

0 comentários: