25 de fevereiro de 2010

"Pedro Almodóvar" ou Em defesa dos ateus simpáticos

(Na foto, Alex, de Laranja Mecânica)


(Dedicado ao Zé, sem nenhum motivo especial.)

(Antes de começar este post polêmico, vou fazer uma rápida classificação do tipo de gente que poderia perder seu tempo falando de alguém como Pedro Almodóvar:
1. Pessoas mais afins a outras áreas artísticas, que gostam de cinema por acaso ou não têm muita independência de gosto, e acabam indo ver seu último filme simplesmente porque é famoso.
2. Pessoas que gostam de travestis, como eu.
3. Pessoas fortemente ligadas a alguma espiritualidade - católicos, em geral -, e que normalmente são o argumento contra.*
4. Pessoas fortemente desligadas de qualquer espiritualidade, e que são normalmente o argumento a favor.*)

Para o desânimo geral, eu enganei a todos. Isto não vai ser um post sobre Almodóvar, vai ser um post sobre ateus simpáticos.

SOLTA O VIDEOTAPE

O maior problema de pessoas descrentes de qualquer sentido misterioso na vida, qualquer metafísica, espiritualidade, ateus em geral, não é elas serem assim, é elas só falarem sobre isso, adorarem encher o saco das pessoas falando da própria descrença; é, enfim, elas morrerem de se orgulhar em ser assim, não por um apego nostálgico à descrença desesperada do séc. XX, mas porque elas de fato não saíram do séc. XX.

Elas sofrem, coitadas, com o "nada" e acabam catalisando esse sofrimento com suicídio ou chorando pelo próprio sofrimento. São pessoas fanáticas pela própria descrença e, no entanto, adoram falar mal de fanatismos em geral, sem assumir que cultuam algo de qualquer modo. Nossa, eu poderia citar uma centena de pessoas assim, mesmo sem conhecê-las bem. E estou falando de hoje em dia, às vésperas de 2012, o ano que vai mudar e muito as nossas vidas.

MUDA A CÂMERA

No entanto, existe uma outra espécie de descrença, que eu vou chamar de ateísmo simpático. São pessoas que continuam sem acreditar em nada, mas, de algum modo, superaram a náusea do séc. XX., a tortura de um período assolado em guerras e genocídio e a idéia de completa falta de humanidade no nosso miserável planeta. Elas possivelmente continuam sem crer em qualquer espiritualidade ou mistério, talvez nunca tenham sequer refletido sobre isso, porque elas estão bem assim.

Eu, particularmente, acho esse ateísmo simpático the face of the séc. XXI, the face dos jovens e adultos do nosso querido século, e me parece uma face bem mais atraente. São jovens e adultos que continuam ligados à carnalidade e às circunstâncias da carnalidade (afinal, de papel é que eles não são feitas), mas seguem se alimentando, se maquilando e têm um final feliz. Mesmo com toda a confusão de valores que elas absorvem e não sabem verbalizar, mas acho que sempre foi assim.

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Bom, era o que eu tinha para falar. Quem quiser ligar isso a Todo sobre mi madre, La mala educación e a Los Abrazos Rotos, e aos finais dos respectivos filmes, que fique à vontade. Quem quiser, por outro lado, ligar os ateus "fanáticos" ao Fassbinder, um diretor normalmente comparado ao Almodóvar MAS QUE NÃO TEM NADA A VER pelos motivos que eu acabei de apresentar, que também fique à vontade. Quero todos muito à vontade, aqui.

* Sim, usar a própria espiritualidade ou não para justificar um interesse estético pode parecer uma cretinice imensa, mas vamos combinar que, no fim das contas, é algo que todo mundo faz.

2 comentários:

Menina Limão disse...

grande post, sócio! tal e qual o que eu penso, principalmente aquela parte ali do meio, sabes? essa mesmo. solta o videotape.

Luciano disse...

hehehe, a gente também pode falar "SOLTA O VT!"