14 de fevereiro de 2010

mais uma da esperada série "Querido diário,"

Querido diário,

Meu pai anda insatisfeito com meu hábito de estar indo dormir às 8 horas da manhã. Assim, ontem, por volta das 5 horas, entrou em meu quarto e me pediu seriamente para ir dormir. Sou um jovem frágil, querido diário, e acabei cedendo ao pedido do meu amado pai. Fui tentar dormir, mas não consegui. Só vim a dormir depois de 3 horas, ou seja, às 8 horas da manhã, horário em que eu acabaria pegando no sono de qualquer forma. "A vida está sempre nos pregando peças", já dizia a minha tia.

Chateado e inconsolável, contei dramaticamente essa história a um amigo e ele me chamou de mimado e quiçá irônico. Irônico! É uma situação muito simples: meu pai reclama do que eu estiver fazendo neste horário da madrugada: vendo filmes, conversando com meus amigos zumbis no msn ou bebendo cerveja em algum boteco furreca. Ele quer tirar de mim o direito de ficar acordado até 8 horas da manhã e de usufruir da minha juventude, meu maior e mais valioso bem, dado a mim por Deus com a ajuda da mãe natureza.

Oh, querido diário, tudo isso eu contei para o meu amigo da mesma forma como estou contando a você agora. Mas ele riu da minha cara. Sabe, diário, eu, no fundo, não estava tirando uma piada ou ironia do meu insolúvel problema. Tampouco, fazia uma grande cena teatral: o pobre rapaz com um problema irreversível. Talvez estivesse fazendo isso na superfície, mas, no fundo, eu estava sendo tão gravemente sério ao ponto de ninguém me dar qualquer bola. Eu tenho certeza de que fui mais sério assim do que se tivesse sido referencialmente sério, do que se tivesse dito "Meu pai queria que eu dormisse, fiquei meio chateado porque queria ficar acordado, mas agora já está tudo ok." Acho que o drama, a tragédia ou a ironia talvez sejam as únicas formas de se ser sinceramente sério, e por isso fiz como fiz, como venho fazendo e espero continuar a fazer até o fim dos meus dias e noites.

Além de ter passado o dia inteiro um tanto aborrecido com o fato de não poder ter dormido na hora em que eu quis, ainda assisti por acaso a Hiroshima, Mon Amour, que é provavelmente o filme mais desonesto que eu já vi, por ser algo que me orgulho de que nunca serei: referencialmente sério. Querido diário, a verdade é que eu não tenho paciência para esses franceses (ou francesas) de algumas décadas atrás que me olham de cara feia. Dou a língua para todos. A única francesa que pode me olhar de cara feia é a Brigitte Bardot, minha eterna e inimitável B.B.

Mas isso o meu amigo não entendeu, e eu também não fiz questão de explicar, como o estou fazendo nesta folha branca, perfumada com rosas e com um enorme SENHOR DAMASCO carimbado no canto superior da página, com tinta marrom-fosco, que certamente é uma ótima cor para carimbos.

Hoje, mais tarde, em vingança a todos, trancarei dramaticamente a porta do meu quarto e, com um close em meu rosto vindo do meu abajur creme, farei sem restrições aquilo que eu mais quis fazer ontem e não pude: dormirei às 8 horas da manhã, com um enorme sorriso de prazer em meu rosto.

Um abraço de seu simpático dono,
O senhor damasco.

7 comentários:

Anônimo disse...

mi-ma-do mi-ma-do

Luciano disse...

Oh Deus!

Marina Esmeraldo disse...

querido sr. damasco,

recitei este post em voz alta para danilo e ficamos a rir e a admirar seu dom para a tragédia.

beijos calorosos,
srta. das listras

Dayane Costa disse...

Eu te entendo. Essa situação de não dormir a hora que quero e etc acontece muito comigo.

Enfim, te ofereço um abraço, é a única coisa a fazer, já que, pelo menos no meu caso, nada mais adianta.

(eu sou a Liv, que comentava nuns posts aqui blablablabla foda-se)

Luciano disse...

Queridas Marina e Dayane,
ofereço meu abraço caloroso.

Caio Marinho disse...

Minha mãe chega - dia-sim, dia-não - e numa maneira não estranha à do seu pai entra meu quarto e roga: Meu filho, não vá ficar acordado até de madrugada não.

Respondo que não, não ficarei. Mas, alas, eu sempre, sempre fico.

Enfim, entendo seu drama, meu caro. Abraço.

Luciano disse...

Hahaha, o termo é justamente esse: alas. Abraço, abraço.