19 de novembro de 2008

impressões sobre literatura brasileira ou Teoria das Cordinhas

Às vezes, me pergunto qual é exatamente o sentido da palavra "modernismo" em literatura brasileira. "Modernismo" me faz pensar que toda uma carga tradicional gigantesca acabou de desmoronar em razão dos novos modismos. E não sei exatamente que enorme tradição foi essa que desabou, ao mesmo tempo que "modernismo" me soa como algo tão brasileiro.

O problema ("problema", o imenso problema, sintam o peso da palavra) é que quase todos os escritores no brasil querem justamente escrever em razão desse modernismo, em razão desse avanço incrível em relação ao que se passou - mas o que se passou ninguém sabe, ninguém conhece, pouco importa se existiu. Escreve-se para contestar algo que exatamente não se sabe o que é. E, quando se faz defesa, a única coisa que vejo a ser defendida é essa contestação, que era inicialmente mero instrumento.

(Para ilustrar isso, lembro que outro dia ouvi uma estudante de Letras falando como gosta de escrever sem rédeas e automaticamente visualizei o grande Gênero dos Sem Rédeas, embora imaginar-se incluída dentro de um gênero pudesse ofender imediatamente a então jovem escritora - não, "ela não faz parte disso".)

A vantagem de a literatura brasileira ser assim - sim, é um modelo bonito - é que favorece apenas realmente talentosos, já que o Gênero dos Sem Rédeas é bem mais difícil de ser controlado e ultrapassado que o dos Com Rédeas. As desvantagens são duas: a primeira é que é muito fácil cair em mero confessionalismo ou culturalismo; a segunda é que quase todo mundo - quase todo mundo que escreve assim, eu digo - se acha um gênio. Um gênio com um copo de caipirinha na mão, mas um gênio, ainda.

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