18 de junho de 2008

kafka e a chatice

a chatice, muitas vezes (e não todas, fique claro), é um caminho. muitas passagens bonitas de romances não seriam tão bonitas se não tivessem sido cruzadas por um caminho chato e pedregoso antes. não estou falando dessa chatice engraçadinha de que alguns falam, charme que muitas vezes vira um atrativo pessoal. não, chatice de dar sono mesmo. claro que existem livros enfadonhos por serem enfadonhos e acabou aí, mas há alguns que trazem em si essa iluminação avassaladora. e isso não acontece em contraste às passagens chatas, como se existisse pura e simplesmente um caminho sofrido e então a luz. a luz também é esse instante de dar sono. O Castelo, por exemplo, é um livro chato. mas como não o seria? no caso de O Castelo, esse momento iluminado não está descrito no livro, nem em lugar algum; mas existe. e essa espera ao longo do caminho do agrimensor K. não faria sentido se não fossem os quilos faraônicos de chatice e tédio que atravessam o livro. é possível que muitos não vejam nem a sombra desse momento, que sequer tenham aprendido a ver. mas está lá. e está lá de modo claro, embora não consistente (que é outra das graças de Kafka, isso de não falar de forma consistente). pelo menos, existem outros caminhos. se todo romance fosse como O Castelo, eu certamente teria me arrependido de largar a faculdade de direito.

3 comentários:

agente laranja disse...

Talvez seja assim que vocês gostam de Bergman.

lulu disse...

vou trocar.

Luciano disse...

hahaha :~