vamos supor
vamos supor que a vida seja um corredor em linha reta. por esse corredor, além do caminho óbvio, existem alguns tabuleiros pelo chão, e uma janela. os jogos são diversos, e estão todos espalhados pelo caminho, à disposição de quem quiser jogá-los. às vezes nos sentamos, tentamos manusear as regras de um jogo qualquer. há quem gaste toda a sua vida sentado de frente a um único tabuleiro. outros se cansam e vão avançando pelo corredor, na esperança de um jogo mais complexo, mais difícil. às vezes desistem e voltam aos mais simples. é possível, dizem, que o corredor não possua fim. muitas vezes, quando estou andando pelo corredor, vejo pessoas atracadas ao chão, sem conseguir avançar, mesmo o caminho sendo apenas um, e claro. normalmente estão presas a algum tabuleiro, concentradas. muitas vezes sou eu mesmo que estou a um tabuleiro, e então vejo outros, maiores que eu, passando pelo meu caminho. quando isso acontece, desisto de ganhar aquele movimento de peças com que gastei os últimos meses e anos e volto às andanças. desconfio que uma vez, pela janela, vi o arcanjo. sei disso porque uma vez, em sonho, o próprio me disse seu nome. já vi muitos tentarem denominá-lo. às vezes penso ser ele o último movimento comum aos tabuleiros.